Seca no Lago de Furnas provoca prejuízos
Nível do reservatório está abaixo da cota 762 e gera preocupação a piscicultores e ao turismo
O Lago de Furnas atingiu nas últimas semanas o nível mais baixo dos
últimos dez anos. O volume de água atingiu 755 metros acima do mar, ou
seja ficou abaixo da cota 762 – nível mínimo que garante as atividades
do turismo e da pisicultura. Uma audiência pública foi agendada para
debater o assunto (leia matéria nesta página).
O resultado tem sido prejuízo econômico para região. “Hoje não se fala
em prejuízo somente para os piscicultores, mas para toda cadeia
econômica ligada ao Lago”, diz o presidente da Colônia dos Pescadores
Profissionais de Alfenas Z-4, Celso Fernandes.
Os proprietários de pousadas, resorts e bares que ficam às margens da
represa já sentem no bolso o resultado da seca no Lago. João Luiz de
Souza, proprietário do restaurante PJ, em Fama, diz que perdeu cerca de
70% da clientela em plena temporada.
O restaurante fica localizado às margens do Lago de Furnas e absorve “em
cheio” a baixa do nível de água na represa. “O povo vem para Fama andar
de lancha, de jet ski (...). Os que têm embarcação convida outras
pessoas para vir também. Agora, com essa água baixa, deu uma caída boa”,
reclama.
Souza diz que os prejuízos em seu restaurante só não foram maiores
porque reduziu as despesas. “Em pleno verão, tive que reduzir as compras
e, inclusive, funcionários”, lamenta.
Topografia
O secretário-executivo da Alago (Associação dos Municípios da Região
do Lago de Furnas), Fausto Costa, diz que o prejuízo com a redução do
volume de água no Lago atinge, principalmente, a região de Alfenas. Ele
compara o impacto da seca na economia de cidades como São João Batista
do Glória e Capitólio, onde há uma intensificação do turismo.
O motivo, segundo Costa, é a topografia. Na região de Alfenas, as
cidades apresentam uma altitude mais elevada do que os municípios de
outras regiões que são abrangidas pelo Lago de Furnas.
A Alago não tem um estudo do impacto na economia local, porém Costa, que
também é secretário de Desenvolvimento Econômico e Ação Regional de
Alfenas, admite que o prejuízo é inevitável. Em Formiga, a Secretaria de
Turismo do município calcula uma queda no faturamento com o turismo de
R$ 3 milhões para R$ 700 mil nesta temporada.
Na piscicultura, o prejuízo também é intenso. O piscicultor José Afonso
Pessoa, por exemplo, costuma produzir em Fama 60 toneladas de peixe, mas
até o momento só conseguiu 11 toneladas. Das 32 gaiolas, apenas sete
ainda estão na água, segundo informou ao G1 Sul de Minas.
Além da baixa produção atual, os piscicultores temem por prejuízos
futuros. Celso Fernandes diz que a “desova” está exposta devido a seca
e, por isso, fica desprotegida dos predadores, o que agrava a situação.
“Os alevinos viraram presa fácil para os predadores”, explica.
Para piorar a situação, a vegetação, que cresceu ao redor do Lago, onde
água baixou, vai ser decomposta com a cheia. Com isso, surgem bactérias
que competem com os peixes pelo oxigênio, o que pode provocar
mortalidade de peixes, explicou a zootecnista Laura Helena Órfão em
entrevista ao G1.
Outra preocupação é com o período de recuperação, que será lenta. Uma
temporada de chuva não será suficiente para recuperar o nível do Lago. O
secretário-executivo da Alago acredita que somente em dois anos é que a
situação deve ser normalizada. O deputado estadual Pompilio Canavez
(PT) se reunirá no próximo dia 18 com o presidente do ONS (Operador
Nacional do Sistema), Hermes Chipp, para discutir a situação do
reservatório. (leia matéria nesta página)
Paisagem
A situação do Lago tem provocado mudanças nas paisagens da região da
represa. Pontes e estradas de terra que há anos não apareciam estão
novamente à mostra. Em muitos locais, onde antes havia água, agora
parece mais um deserto.
A antiga ponte, entre Campos Gerais e Alfenas, pôde ser vista nos
últimos dias. Ela fica ao lado da Ponte das Amoras, construída após o
início do reservatório.
Essa é a terceira ponte que aparece nos últimos dias de seca na região.
No distrito de Pontalete, em Três Pontas, uma travessia que era
utilizada pelos moradores para o deslocamento até Elói Mendes
reapareceu.
A última vez que ela havia ficado exposta foi há 10 anos,
quando o nível do lago registrou a pior baixa da história. Outra ponte
que também veio à tona foi entre Boa Esperança e Campo Belo, que era
utilizada pelos moradores na década de 1960.
Fonte: Jornal Folha do Lago
Veja mais fotos