Inflação de 2013 começa a bater na porta do consumidor
Inflação do ano que vem começa a bater na porta do consumidor.
Escola particular vai encarecer até 11% e passagem de ônibus deve passar
para R$ 2,80, alta de mais de 700% desde 1994
Ainda restam dois meses para 2012 terminar, mas o consumidor de Belo
Horizonte pode preparar o bolso para o ano que vem. A conta-gotas –
aumentando o sofrimento para pagar as contas – são confirmadas as
variações dos custos de produtos e serviços. A lista é extensa e, com a
mordida do dragão, as famílias já podem pegar as calculadoras para
planejar o pagamento dos débitos, evitando assim o ingresso na lista de
inadimplentes nos primeiros meses de 2013. As escolas particulares terão
reajuste de até 11%, enquanto as tarifas de ônibus devem passar de R$
2,65 para R$ 2,80, afetando os mais de 1 milhão de passageiros na
capital. Mas não é só. Água, táxi, IPTU, IPVA e tantos outros aumentos
ainda vêm por aí.
A variação das tarifas de ônibus deve ser de 5,66% na comparação com o
preço da passagem adotado para esse ano, segundo estimativa feita com
base na planilha de custos adotada pelo transporte público da capital
mineira. Com isso, o valor da tarifa acumulará alta de 700% desde 1994,
primeiro ano de vigência do Plano Real. Já o Índice Nacional de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país,
sofreu variação de 331,33% no mesmo período, ou seja, ritmo mais de duas
vezes inferior. Em 1994, a tarifa custava quase três vezes menos que R$
1 (veja quadro). Nos dias de hoje, a nota de R$ 1 nem circula mais
devido à perda de valor.
Desde 2010, a variação das tarifas é estipulada segundo a inflação de
cinco produtos: óleo diesel, rodagem, preços de ônibus, mão de obra e
despesas administrativas. Com pesos diferentes, é criado um indicador e,
a partir da última semana de dezembro, a BHTrans anuncia o valor da
tarifa que será válida para o ano seguinte. Como o cálculo é feito de
acordo com uma planilha de custos, é possível saber qual a mudança. A
soma dos itens aponta inflação de 5,09%. Com isso, a tarifa subiria para
R$ 2,79, mas, como a BHTrans sempre impõe valores arredondados, R$ 0,01
deve ser incorporado, passando a valer R$ 2,80. A definição, no
entanto, depende de uma “canetada” do presidente da empresa gerenciadora
do trânsito da capital, que não se manifesta sobre o processo. O
Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros também mantém o
silêncio.
O peso maior para o reajuste das tarifas de ônibus é relacionado ao
aumento do custo de mão de obra e despesas administrativas, que, juntos,
são responsáveis por metade do custo da passagem. No acumulado de 12
meses, tiveram aumento de 5,57%, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). O aumento de R$ 0,15 pode parecer baixo,
mas, se colocado na ponta do lápis, reflete parte significativa do
salário dos trabalhadores. Na inflação oficial, ônibus urbano e
mensalidade escolar têm peso de 2,9% e 3,17%, respectivamente. E, como
as variações se dão sempre no primeiro mês em Belo Horizonte, o
indicador também dispara.
Planejamento
A diarista Telma Lima Santos usa quatro vezes por dia os coletivos
para se deslocar de casa para o trabalho, gastando R$ 10,60. O valor
multiplicado por 24 dias de trabalho supera a marca de R$ 250. Como ela
ganha R$ 1,2 mil, mais de 20% é gasto somente com transporte. “Qualquer
centavo faz muita diferença”, afirma. No caso da empregada doméstica
Nilce Maria Batista, o aumento é mais um empecilho para ela se divertir
com filhos aos fins de semana. “É um absurdo. Quase não saio porque a
passagem é cara para o meu bolso”, justifica.
O segredo para evitar transtornos com esses aumentos, segundo o
economista e coordenador de pesquisas da Fundação Ipead/UFMG, Wanderley
Ramalho, está no planejamento financeiro. E a hora de iniciá-lo é agora.
Os gastos com o fim do ano pesam (e muito) nas contas do primeiro
trimestre. “Já sabendo que no início do ano aparece várias contas, as
famílias têm que pensar os gastos. Não é preciso ser radical e não ter
uma festa de Natal, mas ter cuidado para não ter surpresas
desagradáveis”, afirma.
Gás de cozinha ‘pesa’ na despesa
Um dos itens de maior peso no orçamento do brasileiro – a despesa com
habitação – tem sido engrossado pela alta dos preços do Gás Liquefeito
de Petroléo (GLP), o gás de cozinha. Só em outubro, o item registrou
aumento de 1,08%, quase o dobro da inflação do período. Os repasses para
os consumidores, felizmente, ainda são tímidos. Apesar de a média
nacional de aumento na revenda, segundo a Associação Brasileira dos
Revendedores de GLP (Asmirg-BR), ter sido de 12% em todo o país, muitos
locais mantiveram os preços aos clientes inalterados ou e em outros o
repasse foi menor.
No início de setembro, as engarrafadoras de gás em Minas reajustaram o
preço do gás em cerca de R$ 2 – a diferença foi repassada aos
consumidores pelas distribuidoras. A alta ocorreu, segundo o presidente
da Asmirg-BR, Alexandre Borjali, em razão da proximidade das negociações
salariais com os funcionários das companhias de distribuição e
engarrafamento, que reivindicam aumento de 9% nos contracheques. As
empresas, por sua vez, oferecem 5,86%.
Desabastecimento
Funcionários das engarrafadoras de GLP podem cruzar os braços hoje ou
nos próximos dias para pressionar o setor a atender as reivindicações
salariais da categoria, que reúne cerca de 1 mil profissionais. Se isso
ocorrer, de acordo com Borjali, há o risco de desabastecimento na Grande
Belo Horizonte, como ocorreu no fim de semana, quando a categoria fez
paralisação.
R$ 920 para ensino médio em 2013
Com o reajuste das escolas particulares acima da inflação em 2013, a
média de preços para o ensino médio em Belo Horizonte será de
aproximadamente R$ 920 no ano que vem. O Sindicato das Escolas
Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) estimou que no estado a correção
das mensalidades deverá variar entre 8% e 11% na grande maioria das
escolas. Na Região Centro-Sul, o valor do último ano do ensino médio vai
ultrapassar R$ 1 mil por mês em 2013. Levantamento do site Mercado
Mineiro indica que em 2012 a grande maioria das escolas da região já
cobravam para o terceiro ano mensalidades entre R$ 870 e R$ 1,2 mil.
O coordenador do Procon Assembleia, Marcelo Barbosa, explicou que
caso a planilha de custos não seja apresentada com as justificativas do
reajuste, os pais podem pedir à instituição que pratique valores
correspondentes à inflação medida pelo IBGE. A Federação das Associações
de Pais e Alunos de Minas Gerais (Faspa-MG) disse que falta diálogo nas
escolas particulares. “As associações de pais não estão presentes nas
escolas e o reajuste de preços não é discutido. No interior, como a
concorrência é menor, a situação das famílias é ainda pior”, criticou
Neusa Machado, conselheira da Faspa-MG.
Infantil
Na outra ponta, pesquisa do Mercado Mineiro aponta que a
educação infantil em BH pode custar perto de R$ 1 mil, custo próximo ao
do ensino médio. A fotógrafa Mércia Castro estudou em escola pública,
mas o filho Arthur, de 7 anos, frequenta a educação privada. “O reajuste
pesa no orçamento, mas a escola tem qualidade”.
Fonte: Estado de Minas